sexta-feira, outubro 27, 2006

O adeus

De regresso a Manila e apenas com algumas horas de liberdade pela frente, decido ir comprar DVD´s para a Feira da Ladra lá do sítio, que se caracterizava pelo seu interminável comprimento, escassez de turistas e uma peculiar divisão espacial. Deparando-me com dois pólos opostos, não sei por onde começar a vasculhar. No quarteirão católico as senhoras de idade predominavam, essencialmente beatas e comerciantes de vestuário andavam semi-ordenadamente pelas ruas e igrejas. Na terra muçulmana a desordem era total, reinando os DVD´s, os electrodomésticos, um clima de insegurança e constantes trocas de olhares. Para confundir ainda mais a situação, existia também uma pequena comunidade chinesa que se dedicava aos mais diversos ofícios, retendo na memória as lojas velas e um talho chinês.
Conseguindo tudo o que queria, pois já não tinha pretensões de encontrar T-shirts ou calças para o meu tamanho naquelas terras (impossível), regresso ao hostel para fazer o "check-out" final. Ainda antes de apanhar um táxi em direcção ao aeroporto, tenho tempo para doar mais alguma roupa, desta vez serão 6Kg a um senhor necessitado que via frequentemente por aquelas bandas, abandonando assim, de consciência ainda mais tranquila o Sudeste Asiático.
Seguiram-se cerca de 20 horas passadas em aviões, aeroportos e diferentes fusos horários que na companhia de uns filmes, umas garrafas de vinho e uns valliums fizeram todo este sonho desaparecer, despertando definitivamente em Lisboa.

Sem mais palavras para descrever esta fabulosa epopeia,

Luís Lorena

O regresso à província







Saturado da confusão de Manila procuro um pouco de paz e sossego no norte da ilha, à escassa distância de 10 horas. A viagem, atribulada, foi conseguida num autocarro onde chovia no seu interior (nada de especial, se tivermos em atenção onde estou).
Pela matina finalmente atinjo a pacata vila de Banaue, onde na companhia de três americanos me hospedo num "chalet filipino", recomendado por eles e onde rapidamente tomamos um forte pequeno-almoço de forma a estarmos aptos para a maratona que se se segue.
Satisfeitos, seguimos (com mais duas belgas) numa carrinha pick-up, por entre um asfalto que continha mais buracos que zonas planas, em direcção à 8ª Maravilha do Mundo, que se encontrava a uma hora de Banaue e é constituida por extensos terraços de arroz, preenchidos por alegres indígenas e possantes bois-de-água (que passam a manhã a trabalhar e a tarde a comer, boa vida).
O tempo não podia estar mais em sintonia com o meu bem-estar e satisfação, o sol, perdido na imensidão de um azul celeste, irradia um calor acolhedor que me permite por alguns instantes ignorar o esforço físico a que sou sujeito. As caminhadas a 1200m de altura que no final do dia atingiram a marca dos 12Km deixaram-me de restos, mas concretizado.
Por entre sinuosos terrenos e vistas magníficas, fomos em busca da alvejada cascata, onde aproveitaríamos para nos refrescar e repousar, o problema era encontrá-la, pois em nosso redor, só víamos terraços de arroz e uma densa vegetação nas colinas. Derrotados e abandonados, finalmente avistámos uma jovem rapariga, com os seus treze anos, a quem perguntámos se não gostaria de ser nossa guia para o resto do dia. Após alguns gritos e grunhidos por entre o denso verde, ela pede autorização ao pai, que nunca vimos, acompanhando-nos e dirigindo-nos para as belíssimas cascatas, onde chapinhámos e recuperámos as forças com algumas frutas locais. Depois de bastantes horas de passeio, regressámos ao ponto de partida, sem antes nos deparar-mos com algumas dezenas de crianças (com quem joguei um renhido jogo de badminton) que nos saudavam com a maior das alegrias. Aproveitando a deixa, despedimo-nos da fantástica e tímida guia, que estava visivelmente emocionada com a sua primeira experiência turística.
De regresso à vila e após um duche de água gelada, reunimo-nos novamente para jantar no hostel, onde nos entretemos com as recordações e experiências de cada um. Após o recolher das belgas, invisto num grupo de estudantes de Singapura (todos estrangeiros) que na companhia de umas San Miguel, me dizem querer conquistar o Mundo (económicamente e geográficamente, havia de tudo) até ser hora do recolher obrigatório, quando a vila fica definitivamente sem electricidade.
No dia seguinte, até ser hora do regresso a Manila, passeei-me pela vila, tentando perceber como conseguem aquelas pessoas ali viver, afastadas de tudo e sempre sujeitas a um clima instável, como ocorreu aquando da partida (que seria adiada por duas horas) devido ao dilúvio que se fez sentir.
Serão as paisagens suficientes?

terça-feira, outubro 24, 2006

O país as 7106 ilhas

Com o golpe de Estado na Tailândia o meu itinerário é obrigado a sofrer uma grande alteração. Assim sendo, esqueço Chaing Mai e Bangkok, mudando o meu voo de regresso para Singapura. Quanto aos seis dias que ainda me restam de liberdade, vou passá-los ao único país católico da região, às Filipinas.
Após 4 horas de voo avisto uma terra totalmente desconhecida e na qual não tinha intenções de visitar nesta viagem. As palmeiras abundam, tal como as casas pré-fabricadas e o calor. Estou em Clark, a cerca de duas horas de autocarro da capital Manila, que já me desaconselharam a visitar, mas como não tenho outra alternativa e sou curioso, vou à sua descoberta.
O primeiro contacto com esta gigantesca metrópole não podia estar mais de acordo com todos os relatos até aí escutados. Manila é uma típica cidade sul-americana (diria mesmo igual a Lima), ampla, suja, decrépita e com ruas apinhadas de gente sem nada que fazer com as suas vidas. Ao contrário das outras capitais visitadas nesta viagem, não são as crianças que povoam as nauseabundas ruas, mas sim homens e mulheres que não têm ocupação, restando-lhes como único programa possível a confraternização ao ar livre (apesar da poluição).
Instalo-me num hostel na zona turística onde partilho um quarto com mais sete expatriados, o que me alegra pois haverá certamente muitas histórias para partilhar (só não esperava que uma delas fosse contada por um alemão/japonês embriagado e revoltado com a sociedade, não conseguindo proferir mais de quatro palavras no mesmo contexto).
Não tendo nenhuma atracção turística digna de realce, passeio-me, por dois dias, pelas concorridas ruas e centros comerciais da cidade, onde sou constantemente abordado por sem-abrigos e inóspitos cheiros. Durante este pouco fazer, resolvo visitar a parte antiga da cidade, de seu nome "intramuros", pois foi entre eles que ela se iniciou, em 1571. Naquela zona, as igrejas e o forte mantêm o requinte espanhol e a chama colonial, ao passo que as enumeras escolas dão-lhe um colorido que contrasta com a falta de movimento neste espaço esquecido em termo habitacionais. Ainda assim, o mais espantoso é o entrosamento do campo de golf com esta história, no centro de uma cidade (imaginem-se a jogar, apesar dos 32º, tendo como companhia cúpulas de igrejas, extensas muralhas, uma baía e muitos outros pormenores do século XVI).
Após esta breve fuga da realidade, onde pude ter uma ideia como seriam os velhos tempos, sem barulho, corrupção, discrepâncias sociais e com um dia-a-dia funcional, regresso à caótica Manila, onde tal como todos os outros, continuo a deambular até apanhar o autocarro para o campo.

quarta-feira, outubro 11, 2006

A pérola do oriente






Chegado a Singapura, uma cosmopolita ilha a sul da Malásia, vou ao encontro de Filipe Lencastre, que aí habita há alguns meses e me acolherá. As minhas expectativas não foram defraudadas, pois o jovem rapaz, fazendo jus a quem é, irmão de Lord Bernardo Lencastre, vive no centro da ilha/país/cidade num pequeno e luxuoso apartamento, que me serviu de aposento por três noites.
Esses dias foram passados em constante actividade, quer tenha sido a passear nas suas imaculadas ruas, a fazer compras, ou nos seus "trendy" bares e restaurantes.
Nos frequentes passeios pela cidade, as tradições britânicas eram constantemente encontradas, fazendo esquecer que me encontrava no pobre sudeste asiático. Até em China Town existia uma organização que nada tem a ver com a genuína China.
Se algo me marcou, durante o dia, nesta visita, foi a anormalidade de ninguêm atravessar as ruas fora das passadeiras (consta que existe uma avultada coima para os infractores) o que gera um constante congestionamento de peões; a outra lembrança deriva da constante insatisfação da população que raramente sorri, estando sempre distante e focada no trabalho, tal como na maioria dos grandes centros financeiros deste mundo.
Com o desaparecimento do Sol, tudo muda, com os bares a serem invadidos por afáveis expatriados e endinheirados turistas que procuram descontracção e relaxamento, ao som de um jazz e na companhia de saborosos cocktails. Fugindo ao "backpackerismo", que quase não existe por estas bandas, conheci casas (adoro esta palavra) onde o requinte e civismo imperavam, apesar do excesso de gente e álcool.
Foram dias fantásticos, apesar de dispendiosos, onde não faltaram o tradicional Singapura Sling, um desconcertante "night safari", a deslumbrante vista do último andar do Swiss Hotel e a extravagância de um jantar num restaurante nepalês.
Um grande abraço de obrigado ao anfitrião, Pipo Lencastre.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Portugal na Malásia?

Novamente em forma, dirijo-me mais para sul, designadamente para uma ex-colónia portuguesa, a qual governamos durante 140 anos (embora ninguém saiba) e que tem o nome de Malaca.
Devido ao seu posicionamento privilegiado no estreito de Malaca, por onde passavam todas as naus com as especiarias, no século XVI em direcção à China, Índia e Europa foi um local constantemente disputado e como tal tem uma diversidade cultural única.
Temos os templos chineses na comprimida ChinaTown; os edifícios britânicos nas principais artérias; o City Hall e os moinhos holandeses na Town Square; e o forte e as igrejas portuguesas junto ao mar.
Podemos então supor que ainda se falará a língua de Camões nesta terra?
Não podendo esperar que a resposta caísse do céu, vesti a minha T-shirt do pequeno Martunis e fui passear, com esperança de ser abordado. Passados alguns minutos a estratégia deu resultados, com um senhor a dirigir-se a mim num "português acriolado", que eles chamam de cristão (pois é a língua da igreja) e através do qual, apesar das dificuldades, conseguimos ter uma pequena conversa na qual me foi recomendada uma visita ao Portuguese Settlement a 3Km do centro, onde supostamente vivem os 2000 descendentes de Afonso Henriques.
Sendo um sábado, pelo entardecer, resolvo seguir os conselhos do velho ancião e dirijo-me para a sede portuguesa, na esperança de encontrar um grande número de alegres compinchas a beber cerveja ao mesmo tempo que confraternizariam e desfrutariam do sol e brisa marítima. Mais uma vez, a má sorte persegiu-me, não conseguindo encontrar mais de três aportuguesados, que estavam mais interessados em cortar-me o cabelo e vender-me erva, de que responder as minhas pertinentes questões sobre tradições da comunidade portuguesa local.
Mas o melhor ainda estava para vir, quando dei por mim, rodeado de carros (pertencentes aos portugueses) Tunning, apetrechados de dispendiosos e inúteis adereços, que confirmam a (nossa) necessidade de afirmação através do status social, já observada em Andorra, Luxemburgo e Macau.
Os locais, esses são atenciosos e donos de uma interessante gastronomia que foi regada em alguns dos casos, com o visionamento de mais uma fortuita vitória do chelsea; um grande Arsenal-Man.U; e um fenomenal Chalton-Portsmouth (estou pior que o Matos e o Loureiro).
A titulo de curiosidade, dois destes jogos foram assistidos na companhia de duas jovens inglesas, mais ferranhas e conhecedoras dos seus clubes que a maioria das pessoas que conheço e me levaram a mais umas questões sobre nós portugueses e todo o nosso conservadorismo.
O hostel , mais uma vez, era encantador e cheio de excêntricas criaturas. Portanto quem tiver curiosidade em ver uma ex-colónia portuguesa, não se esqueça de se hospedar no "Sama-Sama Guesthouse", tal como não perca a dolorosa exposição do embelezamento dos indígenas no Muzium Rakyat.

A islamita Kuala Lumpur

Atravessando o país por uma auto-estrada com 4 faixas, as recordações das sinuosas estradas do Laos e Cambodia não poderiam ser mais doces, onde os factores velocidade e conforto eram substituidos pela paciência e introspecção. Apesar do modernismo da estrada, as palmeiras continuam a circundá-la dando uma tropicalidade ao local.
Com o aproximar da cidade, avisto duas grandes torres que se distinguem dos outros arranha-céus. São elas as emblemáticas Petronas Twin Towers, segundo edifício mais alto deste planeta e mundialmente conhecido pelo papel que tem no filme "Entrapment". A rodeá-las temos toda a tecnologia asiática, com os extravagantes "skyscrapers" que ao contrário dos até agora encontrados, têm um carisma e identidade própria, que advêm da sua arquitectura muçulmana, onde o branco e as estrelas predominam, nunca nos permitindo esquecer qual a religião predominante no país.
A religião islâmica é tão patente que têm a mesquita mais importante do sudeste asiático; o educativo Islamic Arts Museum; e até na inglesa Merdeka Square conseguiram conjugar alguma da sua arte através do palácio do Sultão.
Passear pela cidade é fácil, não sendo muito ampla, surgindo esporadicamente alguns contratempos, devido ao seu irregular planeamento geométrico, mas que são rapidamente resolvidos com um olhar para o céu em busca das Twin Towers.
Apesar de se considerar uma metrópole, gostei bastante de Kuala Lumpur e da sua fauna urbana que lhe permite num só dia comer Curry acompanhado por uma imensidão de cores na Little India; regatear e comprar quase tudo na apinhada ChinaTown; descansar nos seus amplos parques; e beber uns dispendiosos copos em qualquer bar da cidade ao som de Reggae ou Karaoke.
Para além de toda esta harmonia, creio que o hostel "Le Village" alegra ainda mais o local, com a sua decoração indiana e prestáveis empregados, não admirando que seja o albergue mais procurado da cidade. Na sua concorrida sala de estar encontrei dois aventureiros portugueses (embora já estivessem de partida); conheci muitos tarados, em especial uma estilista canadiana sempre sorridente; e reencontrei Sarah, que já tinha conhecido em Kunming e que tomou conta de mim nestes difíceis dias.
E porquê difíceis?
Agora que já estou recuperado e não podendo assustar os meus familiares, posso contar que houve certos momentos nesta viagem que passei mal, muito mal mesmo, nomeadamente em Kuala Lumpur, onde os "side-effects" da pastilha da malária me deixaram sem apetite, com tonturas, "rashes" e alguma insatisfação. Foram horas complicadas até ser aconselhado pela minha babysitter Sarah a deixar essa malograda droga.
Voltando a Kuala Lumpur e à Malásia, penso que nunca consegui inteirar-me da sua gente, pois continuam-me todos a parecer indianos, não os conseguindo distinguir dos originais.
PS - Como estraguei a máquina digital em Krabi, as fotos da Malásia estão em rolo normal, não podendo aqui ser expostas.

Entrada no fim do mundo

Após o desejado (hehehe) abandono dos meus discípulos, volto aos lotados autocarros tailandeses onde sou o único ocidental e o centro das atenções.
Dirijo-me para Hat Yai, terceira maior cidade do país e famoso entreposto comercial para com a vizinha Malásia. Nessa terra de forasteiros e criminosos fiquei por dois dias, nos quais voltei a comer McDonald´s (é mau, mas depois de dois meses sem ver o M mágico, torna-se gourmet); assisti a uma paixão e devoção para com o rei do país que jamais pensei poder existir (90% da população veste-se de amarelo e com o brasão monárquico); percebi que algumas influências inglesas ainda são seguidas, como conduzir pela direita; e fiquei enternecido com a entreajuda entre a população (apesar de ser cristã, muçulmana e chinesa) que leva a um "bem-estar" geral, não existindo pobreza nem sem-abrigos.
Seguindo mais para sul, dou por mim na estranha Malásia, onde me parece que de um dia para o outro o Mundo deu uma volta de 180º, girando da multi-religiosa Tailândia para a muçulmana Malásia. Já no autocarro tinha reparado que existiam demasiadas burkas, saris e rostos escuros, mas quando cheguei a Ipoh, pelas 18 horas, não pude acreditar onde me tinha enfiado. Sem tirar nem pôr, estava numa cidade industrial, escura e vazia. Tentando ser optimista, ainda pensei que poderiam estar todos a orar, ou mesmo que o Ramadão, este ano, tinha chegado mais cedo. Mas não, nesta terra, que já foi próspera e até tem o seu Taj Mahal, os seus habitantes abandonam o ofício e as ruas pelas 17 horas, dirigindo-se para casa, onde jantam e dormem.
Perguntam-me agora o porquê da minha peregrinação a este "fim do mundo". A razão de bastantes backpackers (apesar de não ter visto nenhum) por aqui pernoitarem é a sua localização, no sopé dos famosos Cameron Highlands, onde imperam plantações de chá, morangos e cactos; coloridas borboletas; e uma diferente selva (a 1500 metros de altitude) que permitem uma recordação dos idílicos cenários de "Alice no País das Maravilhas".
Apesar do isolamento tive alguns momentos engraçados, como quando descobri uma sala de jogos a 0.05€ cada, nos quais quase sai sempre derrotado, em consolas que datavam de 1992.
Na manhã seguinte voltei a mudar o meu itinerário, devido a uma noite mal dormida, onde vi o chelsea vencer ingloriamente o Werder Bremen e deslumbrei-me com a obra-prima de Caneira sobre Maicon e Toldo (felizmente tinha televisão no quarto, fazendo esta de minha companhia até ao final dos jogos por volta das 6h da manha). Na manhã seguinte, já sem possibilidade de ir acampar, decidi seguir directamente para a capital do país Kuala Lumpur.

domingo, setembro 17, 2006

Depois da tempestade vem a bonança









Recuperado da agonia do ultimo dia, sigo para mais uma noite de copos, na companhia de um suico (ex-presidiario na Namibia) e um artista alemao, que se prolongaria ate as 4.00h e quase inviabilizaria o reencontro com Ulrich e Sabido. A verdade e que quando acordei na manha seguinte (ou poucas horas depois de me deitar), faltavam 60 minutos para o aviao descolar, encerrando o "check-in" dentro de 15 minutos. Totalmente adormecido, empacoto a mochila, visto uns trapos e comeco a correr como um louco pela rua em busca de um riquexo que me levara ao aeroporto em 15 minutos. O final da historia e feliz, com um "check-in" feito 25 minutos antes da descolagem e o tratamento da minha higiene nos lavabos do aeroporto.
Depois de dois voos onde a boa disposicao nao esteve presente, aterro em Phuket, ilha mais turistica do sudeste asiatico e uma das zonas mais afectadas pelo tsunami de ha dois anos. Tal como esperava, vestigios deste, nao ha, podendo apenas lembra-lo pelas tabuletas, espalhadas pela ilha, de instrucao ao banhista em caso de novo terramoto/tsunami.
Explicando a razao deste desvio de rota com palavras de Ulrich "nos que nascemos com o rabo virado para a lua" fomos convidados, sem qualquer despesa, a instalarmo-nos durante quatro noites (uma aqui e tres em Krabi) em luxuosos resorts de 5 estrelas (obrigado Sabido).
Ao chegar ao resort, com o meu chauffeur particular, que me recolheu no aeroporto, encontro os meus dois amigos com um inqualificavel sorriso na cara a chapinharem numa das piscinas do estabelecimento. Apos uma rapida apresentacao, sou inundado por comida tailandesa (que ja conhecia, mas nao com tanto gosto) que me deixa empastelado para o resto da tarde e me da algumas indicacoes de como serao os proximos dias.
Considero assim, a minha estadia em Phuket e Krabi como um regresso ao Primeiro Mundo, onde a abundancia de comida, bebida, luxo, sol e mar me fizeram sentir em casa e nao no pobre sudeste asiatico.
Tendo de destacar algo, no meio de tao graciosos dias, destaco a nossa aula da cozinha tailandesa onde aprendi a fazer "spring rolls" e mais algumas coisas; a visita a uma escola que foi abalada pelo tsunami e onde fizemos uma especie de servico social e assistimos a um sarau que me fez lembrar os longinquos tempos de salesiano; o snorkeling nas cristalinas aguas das ilhas Phi Phi que me mostraram o quao importante era manter o segredo que Leonardo DiCaprio espalhou; e a festa de despedida onde tivemos direito ao habitual banquete, mas desta vez acompanhado por jogos e homens-fogo para nos entreter.
Negativamente so me ficou a imagem nocturna de Patong, onde o excesso de prostitutas, jogo, sexo, drogas, alcool e homens desesperados era inquantificavel, considerando-o o maior buraco de semen deste mundo.
Para finalizar, so umas palavras de grande apreco e agradecimento a nossa anfitria Miss Supatra (http://www.centralhotelsresorts.com/)

sexta-feira, setembro 15, 2006

Desafabo em Chaing Mai

Estou ha tres dias em Chaing Mai, segunda maior cidade da Tailandia e nao ha nada para fazer. O calor abrasador, que chega a atingir os 36 Graus ainda torna esta terra mais vazia e inactativa. As saudades da enorme e barulhenta China sao imensas, podendo agora verdadeiramente dar-lhe o seu merecido valor.
A principal razao da vinda para esta cidade foi a sua localizacao estrategica, bem no norte do pais, quase fazendo fronteira com o Myanmar, sendo um bom poiso, para explorar as famosas aldeias dos Kharan (mulheres com os colares e longos pescocos), andar de elefante, fazer um rafting de nivel mediano, ou mesmo passar um dia diferente no dictatorial Myanmar. Nenhum destes projectos seguiu em frente, essencialmente devido ao incidente na primeira noite que me deixou combalido por 24 horas. Nao aconselho ninguem a sair a noite com americanos que nao gostam de cerveja, preferindo as repugnantes bebidas brancas, misturadas num enorme "bucket" para depois serem bebidas por minusculas palhinhas. O resultado, como podem prever, nao foi o melhor, diminuindo-me fisicamente e mentalmente por bastante tempo.
Voltando a cidade em si, tem cerca de 200 templos, quase tantos como Bankok, mas num espaco infinitamente inferior o que a torna num museu budista demasiado homogeneo. Do outro lado temos a comida, que e fantastica, sempre regada com as suas tradicionais e ricas especiarias regionais.
Ao tomar conhecimento do "Night Bazaar" que da cor a cidade todas as noites, sendo nos dias de hoje, um dos mercados mais populares deste mundo, resolvi visita-lo na esperanca que um pouco de consumismo me sacia-se a nostalgia chinesa. O resultado nao foi o pretendido, apos vaguear por ele durante duas horas, sempre a ver as mesmas coisas, cheguei a triste conclusao que a Thailandia esta corrompida pelo mercantilismo e pela imoral exploracao da prostituicao (o turismo sexual e assustador) nao me permitindo criar boas prespectivas para os proximos dias.

Um Oasis em Luang Prabang











Depois de tentar convencer, sem sucesso, os meus acompanhantes a apanharmos um autocarro normal, nao tive alternativa senao seguir numa minuscula e desconfortavel "van" que nos transportou pelas montanhas do Laos, parando em pequenas comunidades indigenas auto-suficientes, repletas de traquinas criancas, permitindo-nos observar a inocencia deste povo e descortinar que o seu "hobbie" e fazer filhos, chegando estes, a estarem em maior numero que os graudos.
Na chegada a Luang Praband, segunda maior cidade do Laos, com 26 mil habitantes, nao deu para perceber a beleza do local onde nos encontravamos, ficando apenas com a ideia de ser uma historica vila recheada de templos.
Com o passar dos dias e consequentes deambulacoes pela cidade, as pinturas de Gauguin nao me saiam da cabeca. As diferencas deste oasis no meio das montanhas, repleto de palmeiras e circunscrito por dois rios, para com as suas obras no distantes Tahiti sao quase indecifraveis, ate a cor do povo e igual.
A vila tem o seu coracao no mercado e zonas circundantes, encontrando por essas vielas, imponentes templos (com destaque para o dourado Wat Xieng Thong que com o reflexo do sol consegue hipnotozar qualquer um); restaurantes; artesanato; agencias de viagens; e alguns homosexuais. Sim, para minha grande surpresa a homosexualidade ja conseguiu conquistar este encantador povo (budistas inclusive) sendo natural observar homens de maos dadas aos pulinhos pelas ruas.
Para alem da riqueza em si mesma, a vila esta numa posicao priviligiada para quem deseja visitar e nadar em cataratas (bastante vulgares na minha opiniao); praticar rafting (o Ulrich e o Sabido consideraram um passeio engracado, eu nao fui); andar de elefante ou visitar tribos das montanhas.
Sempre num passo pouco acelerado, imitando os locais, descansamos no verdadeiro sentido da palavra, nesta terra, onde pelas 21h os restaurantes encerram as suas portas, obrigando-nos a um aborrecido recolher, que no dia seguinte agradeceremos, pois a energia e ilimitada para explorar este, ainda, paraiso na Terra.

quarta-feira, setembro 13, 2006

A transformação de Vang Vieng










Entre Vientiane e Luang Prabang, principais cidades do Laos, encontramos a Meca dos backpackers no sudeste asiatico, Vang Vieng. Os 200km do trajecto, para a alcancar, foram atribuladamente conseguidos em 6 horas, por entre infindaveis montanhas e poeirentas estradas, nunca ultrapassando os 60km/h no velocimetro.
Hospedamo-nos num practico e bem recente Bungalow a cerca de 500 metros da vila, o que nos permitiu fugir da sua "Friendalizacao" (todos os bares e restaurantes exibem episodios de Friends em varias televisoes para os "happy" clientes) e nos proporcionou preciosas observacoes do rio e do dia-a-dia dos poucos locais que nao se alimentam do turismo.
Nao querendo fugir a minha condicao de turista, assumo as culpas que acarreto, como todos os outros (sendo a Biblia, Lonely Planet o principal culpado) de ter transformado este paraiso (entre outros), num recreio para ocidentais.
Esquecendo este parentesis, que da por certo longas discussoes e nas quais me encontrarei numa posicao de constantes contradicoes, os dois dias que ali ficamos foram aproveitados para fazer o ritual "tubing" pelo rio; explorar cavernas (so fui a uma, enquanto os outros foram a tres ou quatro); e pouco mais, pois a instabilidade metereologica nao mais permitiu.
Gostava de frisar, que apesar das criticas atras feitas, a vila tem um encanto especial, oriundo do cruzamento de cores entre o rio violeta e as verdes "karst limestones", o que gera toda esta exagerada procura/transformacao.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Vientiane a cidade fantasma






Mais uma vez, madrugámos para apanhar o avião para Vientiane, capital do Laos. O Sabido estava muito nervoso e preocupado com esta viagem pois não confiava na maravilhosa companhia que é a Lao Airlines, nem estava seguro quanto a estadia no país mais bombardeado do mundo e onde, supostamente, homens armados se passeiam pelas suas ruas.
Tal como os vizinhos Cambodia e Vietnam também o Laos teve uma violenta guerra, a única diferença é que foi algo totalmente abafada e escondida pelos EUA. Durante 8 anos, os pobres habitantes deste longínquo país, foram bombardeados por aviões americanos, tripulados por homens que depois das descargas, vestiam-se a civil e passeavam livremente pelos locais que tinham acabado de destruir. Devido a tal atrocidade, ainda mais sem razão aparente, pois a guerra americana era com o Vietnam, o país encontra-se demasiado atrasado em relação aos seus vizinhos, mas não por isso, menos interessante e deslumbrante.
Diria mesmo que foi o povo mais acolhedor até a data, com toda a sua mentalidade de "easy-going" e "carpe diem" os problemas de ser regido por um comunista e ter recolher obrigatório as 23 horas parecem factores demasiado insignificantes para ensombrar a visita.
Chegados a Vientiane, num domingo, a estupefacção foi geral ao encontrarmos uma cidade/capital fantasma, sem nenhum dos seus 200 mil habitantes nas ruas, que diga-se não são mais de vinte, fazendo-me lembrar a interior vila portuguesa de Veiros, enquanto ao Sabido, todo aquele sossego o tornou melancólico e com saudades de casa.
Por mais dois dias passeamos por esta invulgar capital, que se manteve inabitada, facilitando ainda mais as nossas deambulações. As visitas aos tradicionais templos; o consumo nos seus mercados; as fabulosas iguarias que nos fizeram esquecer onde estávamos; e os copos no escuro e mal frequentado bar/pub preencheram esses melancólicos (Sabido), mas saborosos dias.

terça-feira, setembro 05, 2006

A beleza de Ankor Wat















Para chegarmos a Siem Reap, ponto de acesso aos mitologicos templos de Ankor Wat, tomamos um estranho barco, em forma de aviao/submarino, que durante 6 horas nos permitiu navegar o Tonle Sap e explorar as pequenas comunidades que por ai vivem, afastadas de tudo e todos.
A chegada ao improvisado porto de Siem Reap foi surpreendente, dezenas de "touts" gritavam e acenavam em busca de atencao; criancas seminuas brincavam e conduziam as suas bicicletas nas estreitas estradas; mulheres dormiam no chao das suas palhotas de forma a evitar o forte sol; e tudo isto, na mais simples e rudimentar ruralidade, ignorando por completo o facto de estarmos num local que ja chegou a ter um milhao de habitantes, aquando Londres tinha cinquenta mil.
Apos um rapido "check-in" no hostel, apanhamos um Tuk-Tuk para o epicentro da cultura Khmer. Sendo varias vezes referenciado como uma das tres maravilhas do mundo, a par da Muralha da China e de Machu Picchu, as expectativas eram elevadissimas. O problema e que foram suplantadas ao encontrarmos uma vastidao de imponentes templos numa perfeita sintonia com a selvagem vegetacao da selva cambodjana.
As enigmaticas faces em Bayon Temple; a forca da vegetacao em Ta Prahom (templo explorado por Angelina Jolie em Tomb Raider); e a geometria e os detalhes do gigantesco complexo de Ankor Wat sao razoes mais que suficientes para a merecedora distincao de "maravilha do mundo".
Tal como a entrada no complexo, a despedida tambem teve proporcoes apocalipticas, com um interminavel banho de chuva, que interrompeu o ensonante por do sol e nos deixou encharcados e com umas contagiante vivacidade que se prolongaria ate ha hora de jantar, na companhia de tres portugueses, que acabamos por descobrir, vivem a menos de 500 metros de minha casa.
Portugueses, vizinhos e com amigos comuns, nada melhor para acabar tao maravilhoso dia.