quinta-feira, setembro 28, 2006

Portugal na Malásia?

Novamente em forma, dirijo-me mais para sul, designadamente para uma ex-colónia portuguesa, a qual governamos durante 140 anos (embora ninguém saiba) e que tem o nome de Malaca.
Devido ao seu posicionamento privilegiado no estreito de Malaca, por onde passavam todas as naus com as especiarias, no século XVI em direcção à China, Índia e Europa foi um local constantemente disputado e como tal tem uma diversidade cultural única.
Temos os templos chineses na comprimida ChinaTown; os edifícios britânicos nas principais artérias; o City Hall e os moinhos holandeses na Town Square; e o forte e as igrejas portuguesas junto ao mar.
Podemos então supor que ainda se falará a língua de Camões nesta terra?
Não podendo esperar que a resposta caísse do céu, vesti a minha T-shirt do pequeno Martunis e fui passear, com esperança de ser abordado. Passados alguns minutos a estratégia deu resultados, com um senhor a dirigir-se a mim num "português acriolado", que eles chamam de cristão (pois é a língua da igreja) e através do qual, apesar das dificuldades, conseguimos ter uma pequena conversa na qual me foi recomendada uma visita ao Portuguese Settlement a 3Km do centro, onde supostamente vivem os 2000 descendentes de Afonso Henriques.
Sendo um sábado, pelo entardecer, resolvo seguir os conselhos do velho ancião e dirijo-me para a sede portuguesa, na esperança de encontrar um grande número de alegres compinchas a beber cerveja ao mesmo tempo que confraternizariam e desfrutariam do sol e brisa marítima. Mais uma vez, a má sorte persegiu-me, não conseguindo encontrar mais de três aportuguesados, que estavam mais interessados em cortar-me o cabelo e vender-me erva, de que responder as minhas pertinentes questões sobre tradições da comunidade portuguesa local.
Mas o melhor ainda estava para vir, quando dei por mim, rodeado de carros (pertencentes aos portugueses) Tunning, apetrechados de dispendiosos e inúteis adereços, que confirmam a (nossa) necessidade de afirmação através do status social, já observada em Andorra, Luxemburgo e Macau.
Os locais, esses são atenciosos e donos de uma interessante gastronomia que foi regada em alguns dos casos, com o visionamento de mais uma fortuita vitória do chelsea; um grande Arsenal-Man.U; e um fenomenal Chalton-Portsmouth (estou pior que o Matos e o Loureiro).
A titulo de curiosidade, dois destes jogos foram assistidos na companhia de duas jovens inglesas, mais ferranhas e conhecedoras dos seus clubes que a maioria das pessoas que conheço e me levaram a mais umas questões sobre nós portugueses e todo o nosso conservadorismo.
O hostel , mais uma vez, era encantador e cheio de excêntricas criaturas. Portanto quem tiver curiosidade em ver uma ex-colónia portuguesa, não se esqueça de se hospedar no "Sama-Sama Guesthouse", tal como não perca a dolorosa exposição do embelezamento dos indígenas no Muzium Rakyat.