sexta-feira, setembro 01, 2006

A intensidade de Phnom Penh






A entrada no Cambodia foi conseguida na companhia de um ceu azul preenchido por suculentas nuvens que dele se tentavam apoderar. Nao sei porque, mas cada vez que estou mais proximo da linha do Ecuador, as nuvens tendem a baixar, criando ambientes acolhedores a fazer lembrar os desenhos animados do "Pequeno Poney".
A vegetacao e de um verde tropical intenso com esporadicas pinceladas de um castanho amargo, pertencente aos lamacentos acessos e prados inundados.
Chegando a Phnom Penh, capital do "reino", a nostalgia de regressar a um pais pobre, carente e autentico apodera-se de mim. Nas ruas lamacentas (primeira capital do mundo onde encontro tantas estradas alcatroadas como nao pavimentadas) milhares de pessoas lutam pela vida, entre as quais dezenas de famintas criancas, que com os seus olhares carregados pedem um minuto de atencao e alguns riels para saciarem as suas necessidades. E este o resultado de anos de repressao e exterminio sob o comando dos imorais Khmer Rouge. Um pais envergonhado e esquecido num universo de Tigres e Dragoes.
Com o passar dos dias as surpresas da cidade vao sendo desvendadas. Comecamos pelos tristes, dramaticos e reprovaveis campos de exterminio, repletos de valas comuns, onde ainda se podem encontrar cadaveres; para depois reflectir-mos sobre a brutalidade do regime, na escola/prisao de Tuol Sleng, onde as medidas Hitlerianas seriam consideradas benevolentes. Do lado positivo esta tudo o resto, o alegre pontao onde numerosas familias interagem e brincam todas as tardes; o fabuloso complexo do Palacio Real e da Silver Pagoda, um dos escassos exemplos da genialidade desta raca, que nao foi destruido pelo governo de Pol Pot; os coloridos e heterogeneos mercados espalhados pela cidade; ate ao habito de ser abordado por tudo e todos (ate macacos, que deambulam livres pelas ruas) na esperanca de obterem mais uns tostoes.
Estranhamente, em Phnom Penh nao existem finais de tarde (sunset), a rapidez com que o sol desaparece dando lugar a uma noite escura e pouco iluminada e um exemplo do esquecimento para com este povo, que como que evapora das ruas, deixando-as sujas, amarguradas e prematuras (a media de idades dos que sobram nao deve ser superior a 12 anos). Assim, para nos os seroes sao solitarios e sem grande animacao, ao contrario dos pecaminosos ingleses que se passeiam com rodadas prostitutas, muitas delas com idade para serem suas filhas. E um cenario triste, mas que reflecte a falta de opcoes num pais onde a taxa de analfabetizacao atinge os preocupantes 30%.

2 Comments:

Blogger El-Gee said...

mais um bom retrato! (alias, por falar nisso, obrigado pelo postal!).

10:07 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

finalmente tive tempo para ler estes teu magnificos retratos de uma realidade tão distante como encantadora especialmente contada com tanto interesse e dedicação o que vem contrariar muito a tua personalidade do dia a dia.Fico então muito contente de saber que a viagem esta a correr muito bem e que mais uma vez estas a fazer o que gostas, por outro lado tambem fico com inveja dessas experiencias todas que tu tens e desses conhecimentos que não se pode adequerir com os livros. grande abraço do canadiano

12:53 da manhã  

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